Por Paulo Yokota
Jornal Valor Econômico
É compreensível que nos preocupemos com as coisas que nos cercam, quando se vive num país continental da dimensão brasileira. Mas, o mundo globalizou e vivemos todos numa aldeia, com a internet nos transmitindo o que ocorre no globo.
Precisamos julgar os nossos problemas comparativamente, até para que não tenhamos um sentimento de vítimas isoladas. Existem economias que enfrentam questões graves e outros que os estão superando de forma adequada, dentro das limitações que diferem cada caso. Não só os problemas econômicos, mas sociais, condicionadas pelas histórias e culturas, dentro do quadro político em que estão inseridos.
Dois artigos ajudam a pensar esses problemas. Um do R. Daniel Kelemen, diretor do Centro para Estudos Europeus da Universidade Rutgers. Ele se encontra no site do Foreign Affairs, com o título "O Novo Normal da Europa", mostrando que vivemos na atual situação instável. Sua leitura seria recomendável, pois contem detalhes importantes.
Kelemen mostra que os problemas atuais, como o da Grécia, não podem ser resolvidos rapidamente. Ele entende que a Europa não está na beira do colapso, manter-se-a unida, mas a sua recuperação exigirá muito tempo, tanto com a saída da Grécia do euro, como se ela receber ajuda e permanecer. Alguns economistas entendem que a periferia da Europa poderia abandonar o euro e a opinião do autor é que esta opção seria um suicídio, provocando um colapso no sistema bancário e todas as suas consequências.
Ele entende que os problemas dos países do sul da Europa são estruturais e antecedem a criação do euro. A Alemanha foi a principal beneficiária da criação da moeda comum e seria arrasada com a sua eliminação com a extensão dos seus relacionamentos. Reformas poderiam melhorar a situação, mas nenhuma seria uma panaceia.
O problema é a massiva acumulação de dívidas dos países periféricos que foram aumentados com os créditos da década passada. Volume tremendo de capitais foi transferido para países como a Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha. Ele gerou o crescimento desses países e elevaram os seus salários deixando-os sem competitividade e com débitos monstruosos. As insolvências se tornaram os "novos normais".
A adequada governança veio sendo tentada por diversas formas. Qualquer união monetária em que os países mantêm a autonomia de tributação, dispêndios e contração de empréstimos são problemáticos, e foram tentadas as regulamentações, como parte do Tratado de Maastrich. Nunca foi obedecido, e chegaram ao Mecanismo Europeu de Estabilidade, que foi assinado por 25 países, mas já foi flexibilizado para ajudar a Grécia.
Outro problema estrutural é o Banco Central Europeu, proibido de adquirir qualquer débito dos países membros, mas ele está sendo obrigado a adquirirem bônus de diversos países. Segundo o autor, as atuais tentativas de austeridade dos alemães se aproximam das regras de governança desejáveis, e poderiam resultar em progressos lentos, mas se observa não serem aceitos nas eleições.
Outro artigo interessante é de Noeleen Heyzer, a secretária-executiva da Comissão Econômica e Social para Ásia e o Pacífico, entitulado "Economias asiáticas sob prova" no site do Project Syndicate, mostrando que atual situação "novo normal" de incertezas e volatilidades da economia global cria um turbulento ambiente externo para o crescimento da região Ásia-Pacífico em 2012. Os resultados na Ásia devem ser melhores que no resto do mundo. Seu artigo merece uma leitura atenta.
No artigo informa-se que eles estão conscientes dos impactos do "novo normal" da economia da região. Foram incluídos no relatório das Nações Unidas para 2012 para a Ásia e o Pacífico. Devem reduzir o crescimento de 2012 sobre o que foi obtido em 2011, pela elevação dos custos de capital como as perdas decorrentes das políticas monetárias e protecionistas de alguns países desenvolvidos. O crescimento da região continuará acima da média mundial, com ela continuando a ter papel de polo dinâmico da economia mundial. As relações Sul-Sul devem se estender reduzindo a dependência das economias desenvolvidas.
Na China e na Índia o crescimento continua alto e alguns outros países do sudeste asiático devem ajudar regionalmente, com redução da pressão inflacionária. Uma desordenada solução para os riscos dos países europeus é considerada como possibilidade, e pode afetar a região. Isso poderia reduzir em cerca de 10% suas exportações anuais, com perda de cerca de US$ 390 bilhões e impactaria em redução de 1,3% do crescimento regional em 2012, reduzindo em 22 milhões de habitantes que deixariam a faixa da pobreza absoluta.
A volatilidade dos preços das commodities e perda de sua tendência de longo prazo seria um risco. Isto está sendo considerado como "novo normal", exigindo que a economia regional se adapte a ela. Os países da região devem resistir à especialização em commodities. Eles necessitam da industrialização, diversificação e a criação de novas capacidades produtivas. Aspecto considerado como um passo do "shock-proofing" nas economias asiáticas é o problema da redução do desemprego e das desigualdades. Um processo de reequilíbrio apoiado no mercado interno precisa ser perseguido, segundo a autora. Também o equilíbrio entre o crescimento e as pressões inflacionárias, não somente com medidas monetárias como o controle dos fluxos de capital, nos débitos de curto prazo, além dos problemas de câmbio e desastres naturais que passam a ser considerados como do "novo normal". A autora considera que a atual crise de turbulência e incerteza está atingindo a Ásia num período do seu crescimento, permitindo que existam espaços para manobras fiscais, com o aumento da cooperação dentro da região.
Essas considerações mostram que muitas das preocupações brasileiras são comuns às de outros países. Como as autoridades brasileiras procuram se antecipar com medidas pontuais é desejável que elas estejam dentro de uma estratégia mais ampla, que precisa ser divulgada adequadamente, para o mercado interno como externo.
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